Celebrada em 27 de junho desde 2017, a data instituída pela ONU, com o objetivo de reconhecer importância econômica e social deste segmento em todo o mundo, posiciona o Brasil em um cenário de liderança no mercado empreendedor, chegando a movimentar 30% do produto interno bruto (PIB), de acordo com levantamento do Sebrae. Somente no primeiro trimestre de 2024, o PIB brasileiro teve alta 0,8%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), impulsionado pelo setor de comércio, com forte presença das MPMEs. Em valores correntes, a economia brasileira acumulou R$ 2,7 trilhões entre janeiro e março, e as MPMEs movimentaram quase um terço disto, mais de 600 bilhões.
De acordo com o boletim Mapa de Empresas, divulgado pelo Ministério do Empreendedorismo, no primeiro quadrimestre de 2024, foram abertas 1.456.958 empresas, o que representa um aumento de 26,5% em relação ao último quadrimestre de 2023 e aumento de 9,2% quando comparado ao primeiro quadrimestre de 2023. No mesmo período, foram fechadas 854.150 empresas, representando aumento de 24,4% no quantitativo de empresas fechadas se comparado com o último quadrimestre de 2023, além de aumento de 15,5% em relação ao mesmo período em 2023. Os resultados revelam um saldo positivo de 602.808 empresas abertas, com um número total de 21.738.420 empresas ativas.
Outro fator que merece destaque ao avaliar o impacto econômico dessas empresas é o da geração de empregos formais. De acordo com o Sebrae, em relatório produzido com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, as MPEs são responsáveis por 80% das vagas de empregos formais geradas no país.
Somente em 2023, foram abertas mais de 1,1 milhão de vagas com carteira assinada por micro, pequenas e médias empresas. No mesmo período, as grandes companhias criaram cerca de 14,2% das vagas formais.
Décio Lima, presidente do Sebrae, ressaltou a posição do Brasil como líder na geração de empregos nas Américas e destacou a importância de estabelecer parcerias com organizações internacionais.
Ainda na perspectiva profissional e de geração de emprego, as MPMEs enfrentam uma série de desafios, como acesso limitado ao financiamento e crédito, falta de capacitação, obstáculos regulatórios e dificuldades para enfrentar a concorrência de empresas maiores.
Segundo o analista de mercado Marco Juarez Reichert, conselheiro de administração, CEO da Reichert Advisors e especialista em micro, pequenas e médias empresas, os dados apontam as MPMEs como motor da recuperação econômica do país, o que requer uma atenção especial. Contudo, o especialista ressalta a falta de mão de obra qualificada como o maior empecilho ao crescimento:
"A questão da deficiência de capacitação é um fato. Não somente no Rio Grande do Sul e estados do Sul do país, mas também em São Paulo, onde presto consultorias frequentemente e em outros importantes centros financeiros do país. E isso tem um impacto grande na gestão de eficiência das empresas, nos mais diversos segmentos. Nós temos uma boa mão de obra no Sul, mas ainda assim existem setores que apresentam carência. Durante a pandemia, esta questão se tornou muito flagrante, sobretudo no segmento de tecnologia, dentre outros que necessitam de mão de obra ultra especializada. Na área de TI, durante a pandemia, para achar profissionais de ponta em tecnologia, era uma dificuldade muito grande e ainda hoje pouco se investiu nisso.”
Reichert, que teve um estudo sobre Indústria 4.0 publicado em 2021, o livro A Metamorfose do Vencedor, pela editora Alta books, ressalta que o Brasil se encontra atrasado no que diz respeito a políticas públicas voltadas ao setor de tecnologia:
“É fundamental a criação de uma política de Estado, para o fomento à mão de obra qualificada na área de engenharia de TI, internet das coisas, inteligência artificial e tantas outras possibilidades que envolvem Indústria 4.0, por meio de escolas técnicas e revisão do conteúdo curricular de universidades, muitas vezes construído pró-forma, sem a devida profundidade. A União necessita desenvolver uma política integrada, envolvendo ministério da Economia, do Empreendedorismo, da Educação, em parceria público-privada, do contrário nada se resolverá. Isto é urgente no Brasil, pois muitas empresas MPMEs e talentos empreendedores ficam à margem do seu real potencial de crescimento por falta de mão de obra e falta da criação de acesso à linhas de crédito específicas para se investir em tecnologia, como automação, robótica, tudo isso precisa de dinheiro e mão de obra.“
Impacto das chuvas nas MPMES gaúchas e nas projeções do PIB nacional do terceiro trimestre
Atingido por enchentes em diversas cidades, o Rio Grande do Sul tem uma contribuição significativa no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Quinto maior PIB estadual do Brasil atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, segundo dados do IBGE, o estado figura entre a liderança na criação de MPMES.
Em 2023, o estado gaúcho representou 5,9% do PIB nacional, somando R$ 640,23 bilhões. Enquanto isso, o PIB per capita da região ficou em R$ 55.454, 10,5% maior que a média do país.
Segundo levantamento de 2022 da Confederação Nacional de Indústrias (CNI), as micro empresas (até 9 funcionários) representavam 75% das empresas gaúchas, as pequenas empresas (10 a 49 empregados) 8%, as médias empresas (50 a 249 empregados) representam 4,2%, e as grandes empresas (acima de 250 empregados) correspondem a 1% do total.
Por este motivo, o impacto das chuvas que atingiram 475 municípios, mais de meio milhão de pessoas desalojadas e 175 mortos, é significativo para a economia de todo o país e já se reflete em perdas que ultrapassam a casa dos bilhões para a economia do país.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul já tenham gerado um prejuízo de R$ 3,32 bilhões. De acordo com a CNC, o estado vem sofrendo uma perda diária de receitas na ordem de R$ 123 milhões.
Em projeção nacional divulgada no último dia 3 de junho, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) calcula que a tragédia climática no Rio Grande do Sul terá um impacto de R$ 39,4 bilhões no PIB (Produto Interno Bruto) em 2024.
Segundo o relatório, antes do desastre, a projeção era de um aumento de 4,7% do PIB gaúcho. Agora, é esperada uma perda de 0,6%. A queda de 5,3 p.p. tem como referência as experiências com o ciclone que atingiu o Estado em 2008 e a pandemia de covid. O Rio Grande do Sul tem participação em 6,5% do Produto Interno Bruto nacional.
“Veja só, segundo o portal do CNI, com dados de 2022, as grandes empresas abrangem 37% dos empregos formais, sendo 27% nas indústrias. Aí você o quanto se emprega formalmente fora deste grande espectro e a importância de se ter essa enormidade de micro, pequenas e médias empresas. O espírito empreendedor, do profissional que assume um risco para defender sua renda familiar, se multiplica e tem uma importância socioeconômica imensa, é o que mais gera emprego. Então, as MPMEs são um pilar de qualquer estado e do Rio Grande do Sul nem se fala. Neste momento de crise, de tragédia, o abismo entre grandes e pequenas empresas se aprofunda. As grandes têm mecanismos de defesa, consultorias, linhas de crédito, às micro, pequenas e médias, não. É fundamental agora uma política pública com o olhar voltado para as MPMEs, até mesmo com linhas de subvenção à fundo perdido. Para evitar um efeito dominó, dentro e fora do Rio Grande do Sul. Estas empresas são um importante motor da economia.” conclui Reichert.